31/10/2011

Tristeza

Tristeza é sentimento estranho e tão conhecido nosso,
mas não foram muitas as ocasiões em que nos encontramos, sozinhas, você e eu,
na verdade, sempre tomei cuidado em evitar sua companhia, mas aí, veio o silêncio,
íntimo e avassalador, e eu te vi, ao meu lado, quase sem me fitar os olhos,
com o mesmo rosto que encontro no espelho,
talvez um tanto quanto pálido, cabelos escorridos, pele branca,
rosto noturno, soturno, enviesado,
como se quisesse se esconder por mais um tempo.
Corri pros meus lençois, que me acolheram
como se abraça uma criança ou se agasalha uma flor,
sem machucar e também sem reter,

assim me deixei ficar. Por quanto tempo? Não sei dizer.
Os acordes ainda chegam lentos, o vozerio baixo, quase inaudível,
as pessoas e as situações me colocam em movimento,
e eu vou, obediente, em todas as direções,
levando salvo-condutos, passaportes, justificativas e sonhos inacabados.
Eu e minha tristeza corrente.

14/10/2011

Essência


Sinto-me inteiramente disponível, subjugada ao teu olho - teu pensamento? Perdida em devaneios vários como este, que importa, se não passam de fumaça? O calor corre líquido no sangue, nos fluidos, no espaço que me rodeia e que felizmente se encontra bem longe de tu, ao som que você me apresentou, meu espírito brinca com as múltiplas possibilidades que só existem em minha imaginação, inacessível a esta dimensão, feita especialmente pra mim (e visitantes muito especiais) e o contato tímido é tão bom! Como sorver uma essência perfumada, doce e picante ao mesmo tempo. Com a língua, com os olhos, com a ponta dos dedos... hj, tudo importa bem pouco. Soy feliz. Je suis heureux avec vous. Sabendo que tudo está certo, no seu devido lugar, você lá, não correndo nenhum perigo comigo, e eu também a salvo de cometer mais alguns pecados. O ser humano pode ser patético, você sabe, mas não dá pra esconder também suas maravilhas, não é?
I could offer you
A warm embrace
To make you feel my love
I've known it
From the moment
That we met
No doubt in my mind
Where you belong
I could make you happy
Make your dreams come true
Nothing that I wouldn't do
Go to the ends
Of the Earth for you
To make you feel my love

02/10/2011

Hoje

Hoje, o dia começou com saudade, sentimento estranho, desapegado, nenhum nome, imagem, lugar, que o definisse bem... depois veio o sol, ou melhor, fui até ele, me deixei aquecer, me entreguei às carícias do vento, a intimidade com a água, por fim, me deixei aprisionar pela areia... depois, veio o vôo, ou melhor, o mergulho, no azul do céu e do rio, vaguei, por alguns instantes, voltei ao útero, depois dei um salto no universo, morri e renasci num segundo... depois tentei ser porto, só consegui ser barco, à deriva, balançando suavemente, fui da menina à anciã, e por fim, retornei à mulher... a conclusão do dia, foi a distância imensurável, a certeza pacífica, a conformação bendita.

29/08/2011

Almas irmãs que se querem bem

No silêncio do meu pensamento, imagens várias, música, liberdade e amplidão.
Olhos que brilham no escuro, deslizes, sorrisos, abraço e beliscão.
O pedido mudo de socorro e o arrebatamento de ser compreendido,
esquecimento das horas, compromissos vãos.
Um café à dois, ou à três
e uma taça de vinho
para celebrar
o mistério do contato,
onde não tem regra, nem pecado.
Para além do nosso mundo particular, só não há inocência e perigo.

E na intimidade ainda se abriga o doce desconhecido...


19/08/2011

A Poesia na minha vida


Assim de súbito, como um anjo tivesse sacudido suas asas sobre mim, uma lucidez fria, branca e estranha toma conta do meu coração como essa folha branca de papel, que absorve as minhas palavras sem buscar qualquer sentido. E vem um medo bobo de ser inconveniente, ser demais, além da conta. Uma vergonha boba a povoar os dedos, os olhos, a boca. Eu inteira. Como uma criança que acredita em manhã de natal, em papai noel, em brotos cor de rosa, que ouve música sobre os telhados, e às vezes por engano, deixa a música entrar e ela não quer mais sair do coração. E como criança, me entrego, confio, espero e... alguém me diz que estou enganada. Alguém segura meu pulso e impede que eu caia no abismo, que meu vôo seja muito alto. Eu não posso voar. Ainda não é dezembro. E os brotos ainda estão secos. A poesia além de toda compreensão humana, me toma pelo braço e me socorre mais uma vez.

06/08/2011

Bons amigos

Esse é um texto antigo, mas que guarda um laço com o presente... difícil de explicar. Digamos que reflita algo que aconteceu comigo, podia acontecer com qualquer um, pode estar acontecendo agora, também pode ter sido tudo mera invenção de um coração bobo, que não sabe guardar disfarce. Amor de amigo é coisa linda, que às vezes machuca, às vezes é maravilhoso.

...


Porque quando estou com ele tudo perde a importância? Tudo cai em segundo plano? Não é certo gostar assim. Mas quando penso em dizer não, o sim já se foi, meu sorriso já está estampado, meu olho já tá brilhando, como criança em manhã de natal, esperando o presente. E esse presente é sua companhia, seus olhos, sorriso, mãos, enfim, eu sinto que preciso ficar esperta, então lhe falo tudo na esperança de que ele tome conta da situação, impeça o envolvimento, corte o laço, já que eu sou incapaz de fazê-lo, e acho que ele me compreende, acaba sendo a razão, mantendo-me gentil em meu lugar, impedindo-me a queda. Como por exemplo, lhe faço demonstrações de amor. É de minha natureza, amar e demonstrar, dizer-lhe com os olhos, boca, mãos. Ele finge que nada acontece. Ou melhor que tudo é muito natural, nem faz demonstrações de apreciação ou de contenção. Apenas fica quieto, desvia o assunto, foca outro ponto de vista, faz vista grossa. E por alguns instantes recobro o juízo, volto à velha temperança, torno-me a companhia perfeita, nem de mais, nem de menos. Até quando? Mas o desejo está aqui. Rondando-me. O tempo todo. Um desejo crescente de estar perto. De sentir-lhe a presença. E isso me assusta e inebria. Uma fome de situações que me coloquem junto dele, corrói a alma, ao mesmo tempo que um festival desconcertante de advertências, conselhos, explicações explode no meu ouvido interno, e eu preciso domar o desejo e recriar o laço, afrouxando-o o mais que posso, até convencer-me de que não há perigo, somos apenas bons amigos.

04/07/2011

A sacerdotisa que há em mim...

Há dentro de mim um sem-número de contradições sem-fim
Uma secreta perversão dos sentidos que ao mesmo tempo me assusta, fascina e hipnotiza
Sacerdotisa do tempo, trago no coração, um punhado de sentimentos não-resolvidos
Nos pés, correntes invisíveis, marcas de um tempo, não tão longe assim
Minha túnica já foi branca, hoje está sem cor
Minhas mãos vazias, não conseguem mais reter a areia do tempo
Também não é mais preciso. As verdades já não estão mais em velhos pergaminhos, e eu não preciso mais morrer para o mundo para conhece-las. Na verdade estão bem perto, mas meus olhos de gato, preguiçosos e vadios, preferem seguir a lua e seus estranhos reflexos.
Miragens? Prefiro chamar de janelas, procuro ver meus olhos, mas eles estão escuros, e o som da minha voz às vezes me confunde.
De certo, apenas que estou aqui. O mundo? Está lá. O tempo? Não é mais preciso que eu dê atenção. Não há mais areia em minhas mãos, a túnica também não está aqui, nem as estranhas marcas de meu passado nebuloso e frio.